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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

No Blog às quartas...

Esta semana procurou-se entrar por um outro prisma da sociedade, e o convidado desta semana é o Gonçalo e é Estudante Universitário (Trabalhador-Estudante)

CR - De que forma é que as novas medidas na educação, como o corte de grande número de bolsas afectou a tua vida de estudante e a dos teus colegas?

O corte nas bolsas foi vergonhoso, até do ponto de vista da constituição da república portuguesa. Onde está a educação progressivamente gratuita?? Só vejo a educação a ficar progressivamente mais cara, até níveis incomportáveis. Muita gente ficou sem bolsas, e imagine-se, a meio do ano até as pessoas que tinham direito a bolsa e que a usariam para pagar propinas, material, etc ainda não as tinham recebido. Isto tudo com um silêncio cúmplice da associações de estudantes que em vez de se mobilizarem para reaver os seus direitos se preocuparam com festas quase todas as semanas. A falta de dinheiro das AE's não é desculpa, um protesto pode ser organizado com muito pouco dinheiro, os cartazes podem ser folhas A4....há apenas que ser interventivo e exigir um ensino progressivamente gratuito (tal como está na constituição) e a melhoria das condições de ensino.

CR - Bolonha, sim ou não? Porquê?

A questão é processo de Bolonha NIM....e passo a explicar. O processo de Bolonha teve pontos positivos como a possibilidade de se ter intercâmbios noutros países, mas no geral é o pior que podia ter acontecido ao ensino superior. Este processo teve como principal objectivo a diminuição do financiamento do ensino superior, o que é inconstitucional, visto o ensino dever ser progressivamente gratuito. Pelo que temos assistido o ensino em Portugal está progressivamente mais caro, é uma vergonha e espero que quem tem o poder de meter os estudantes na rua não fique parado.

CR - Sentes-te parte de uma geração à rasca?

De uma geração à rasca não. Faço parte de um país que está à rasca, o que se pode dizer dos 8 aos 80. As condições pioram todos os dias e tenho pena de dizer isto mas vai haver pessoas que até agora tinham uma vida normal que vão provavelmente passar fome. E num Portugal do século 21 é uma vergonha voltarmos a algo que se passou no Estado Novo, um país empobrecido por politicas erradas de contenção.

CR - Tens perspectivas de emprego depois de terminar o curso, especialmente na tua área?

A minha área felizmente tem uma empregabilidade razoável, mas isso é agora. Daqui a um ano não sei como estará o País (suponho que pior) e como estará a empregabilidade da minha área,

CR - A crise sentiu-se na tua casa?

Claro que se sente. O facto de tudo aumentar leva a que se tente consumir menos do que o habitual, mas consumir menos nem sempre é uma tarefa fácil. Quando já não há muito por onde tirar torna-se complicado. Eu mesmo comecei a trabalhar e durante meio semestre no ano passado faltei a algumas aulas porque simplesmente tinha de arranjar dinheiro para as propinas do ano seguinte...é uma vergonha o estado a que chegámos.

CR - Uma questão polémica foi a educação sexual nas escolas. Tiveste algum tipo de formação nesta área, ainda que incluída nas ciências?

Dizem bem, uma questão polémica. Tão polémica que nem existe na programação escolar, o máximo que tive na altura salvo erro no meu 8º ano, foi uma aula de 90 minutos com uma enfermeira do centro de saúde a explicar as doenças sexualmente transmissíveis. É algo importante a ser adoptado numa total reformulação do plano escolar, de modo a formar uma população mais entendida sobre os mais variados assuntos. Nesta área da educação sexual é importante quer para rapazes quer para raparigas aprenderam a colocação do preservativo, aprenderem a contar e saber os ciclos menstruais, pois se os preservativos são protectores quanto a DST's e gravidez, não são 100% seguros e a contagem dos ciclos menstruais e períodos férteis ou não férteis é fundamental.

CR - Relação propinas pagas/qualidade de ensino e instalações, um comentário por favor.

Sem rodeios...uma relação altamente duvidosa. Falo em relação à minha faculdade, não posso falar em relação ás outras embora sejam em tudo semelhante). A minha faculdade (o ISCAL) tem umas instalações totalmente degradadas que não sofrem qualquer intervenção à 3 décadas, aliado á falta de limpeza tanto a nível do edifício como a nível da cozinha (encontrar bichos nas sandes do bar é habitual) torna as propinas que são perto de 1000 € totalmente desmedidas. Uma vergonha completa e total, a nível do ensino pode-se dizer que a qualidade geral dos professores não é má, embora haja alguns que bem...têm uma qualidade algo duvidosa. Resumindo, embora o Estado se devesse responsabilizar pelo financiamento do Ensino Superior, neste caso não o financiando e tendo as faculdades recursos próprios eu pergunto onde anda o dinheiro pago pelos estudantes. Não está de certeza na melhoria das condições!

CR - Medidas da troika, influenciam a vida dos estudantes? De que maneira?

Pois...a troika. Neste preciso momento não está a afectar ainda.Mas irá afectar de certeza, um corte de 500 milhões de euros a um orçamento que já é diminuto só pode correr terrivelmente mal. O corte nas bolsas vai impedir muitos alunos de vir a integrar o curso que queriam e desse modo não poderão estudar e ficarão à margem da sociedade. Está praticamente em vista a preparação de um autêntico exército de pessoas que gostariam de estudar mas que devido a politicas erradas de ensino nas ultimas duas décadas (e continuação!) irão trabalhar para algo que não é a sua vocação. E sinceramente, um profissional trabalha melhor se estiver na área que gosta.

CR - Qual a tua expectativa para os tempos mais próximos a nível do ensino e da sociedade em geral?

Os próximos tempos...vão doer de certeza. O governo vai continuar a mandar apertar o cinto (aviso que já não há buracos!!) e as pessoas vão mais uma vez ter de tirar ao pouco que já não têm. A nível do ensino temo que este ano tenha as condições mais degradantes, mas espero que os estudantes e as associações de estudantes, nomeadamente a Associação Académica de Lisboa, a Associação Académica de Coimbra e a Federação Académica do Porto estejam à altura das responsabilidades e não se refugiem em compadrios partidários e cumpram as suas funções que passam por defender os direitos dos alunos. É muito bom e giro ter-se festas de vez em quando mas quando os tempos apertam a mobilização dos estudantes é essencial, e espero que estes não se deixem adormecer. Quando ao resto da sociedade, que por enquanto está meio entorpecida pelas férias, pelas medidas que caem em catadupa, espero o mais rapidamente possível acordem e vejam que o combate a uma crise e a criação de emprego não se fazem com medidas de austeridade, é necessário haver investimento. Sinceramente espero que haja muita vida na rua nos próximos meses, caso contrário temo pelo destino de milhares de famílias.


CR - Um agradecimento ao Gonçalo pelo tempo disponibilizado e a boa sorte para o novo ano lectivo que se avizinha. Quanto ao "contra-reaccionário" estaremos de volta na próxima quarta com uma nova entrevista.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

No Blog às quartas...

Após uma pausa de uma semana vai-se dar continuidade às entrevistas para nos darem uma visão da sociedade em que vivemos dos mais diversos quadrantes da sociedade. A segunda personalidade entrevistada é a Ana ,ela é empregada de uma instituição bancária.

C-R - Os lucros da Banca continuam em alta. Isso contribui para melhorar as vossas condições de trabalho?

As condições físicas de trabalho, neste momento, para mim não são más, houve obras e as coisas melhoram 200%. Embora durante 8 anos tenha trabalhado num local com condições péssimas. Mas também posso dizer que se deveu essencialmente à falta de empenho do responsável pelo departamento onde estava inserida (embora estivéssemos constantemente a chamar a atenção para a situação insustentável), pois assim que a pessoa saiu e foi substituída por outro as obras aparecerem e tudo melhorou Mas estou a falar única e exclusivamente do meu espaço físico, não faço ideia do dos meus colegas.


C-R - Quais foram as alterações mais significativas que observaste durante e após a falência da Lehman Brothers?

Uma maior preocupação em termos de "gerir dinheiro" uma vez que praticamente todas as instituições investem noutras instituições, tanto para se "ajudarem" (com retornos específicos, lógico) como para se valorizarem. O que não implica que se continue a fazer algumas coisas que não são do agrado de muitos.

C-R - Qual a tua opinião a respeito dos planos de austeridade da troika?

O raio da troika bem podia ter sido um pouco mais branda :) Falando a sério, todos nós sabíamos que a partir do momento em que solicitássemos ajuda externa teríamos de fazer e cumprir o que eles nos propusessem. Implicando isso tudo o que dai adviesse. E neste caso as coisas não estão a ser fáceis, e se segundo o que dizem os nossos governantes o pior ainda não apareceu, então não sei sinceramente onde vamos parar. A única coisa que sei é que os "pequenos" são sempre os que pagam por tudo.
Se eles analisaram as contas e chegaram à conclusão que não podem ser mais brandos, não os posso censurar, só oiço falar em milhões € em buracos de instituições publicas, em autarquias, etc, etc, etc, mas no fundo quando se vai ver bem, essa mesmas pessoas que gerem essas instituições, autarquias, etc, etc, etc, ganham ordenados que fazem corar um cidadão comum.Mas que a austeridade está a ser complicada lá isso está.

C-R - A crise fez-se sentir no teu local de trabalho? Se sim, como, se não, porque não?

Faz-se sentir no sentido de não haver aumentos salariais, e as progressões na carreira estarem a diminuir.

C-R - A Banca precisa de ser recapitalizada? Porquê?

Ser recapitalizada...... a banca precisa de dinheiro, nisso todos temos percepção.Existe graves problemas de capital mal parado e não só, provocando rombos graves nas contas gerais. Neste momento as coisas não estão fáceis, há muita coisa em jogo, nomeadamente a provável insolvência de alguns bancos (isto é uma opinião minha, nada de concreto, somente uma sensação) e se isso começar a acontecer, é o salve-se quem puder... por isso... recapitalizada... sim, talvez necessite sim, mas recapitalizada com contra peso e medida, para se evitar os descalabros que vão aparecendo agora ao de cima devido a anos e anos de livre arbítrio

C-R - Agradecíamos um comentário ao famoso caso BPN.

Em relação a este ponto, tenho uma visão muito peculiar e quando a exponho nem sempre é bem compreendida. Se a analisar fria única e exclusivamente ao que veio para a imprensa, sou, como muitos, da opinião de que não deveríamos ter sido nós todos a pagar por uma coisa que não fizemos nem contribuímos para aquele buraco enorme e gravíssimo e pelo que se vê vai passar impune perante a justiça. Mas analisando como empregada de instituições de crédito (e ainda por cima na altura tinha acabado de regressar dos EUA onde todos os dias bancos fechavam portas sem grandes explicações, simplesmente porque deixavam de fazer face às suas responsabilidades e milhares de pessoas ficavam sem nada de nada após uma vida inteira de trabalho), se não se tivesse intervencionado o BPN toda a banca teria sofrido um colapso colectivo devido ao que estava a acontecer nos EUA, não creio que com o fecho do BPN, a banca se tivesse aguentado aberta e acredita que bancos pequenos e grandes teriam fechado portas devido ao medo generalizado do comum dos cidadãos. Asseguro-te que houve alguns pequenos "incidentes" bancários devido a esse pânico. Foi e é uma situação complexa e difícil de analisar.

C-R - Como vês a actual democracia?

Depende do que se chama democracia, se democracia é as pessoas serem "livres" para votar, então a democracia actual funciona, se a democracia é fazermos o que nos impõem lá de fora, então não existe democracia nenhuma.

C-R - Chegamos ao fim desta entrevista, o "contra-reaccionário" agradece à Ana a disponibilidade para nos conceder esta entrevista e deseja-lhe a maior sorte para o seu futuro. Para a semana traremos outra entrevista focada nos temas da actualidade da perspectiva de outra profissão.