«O que está a mudar Portugal é que se está a dar uma enorme deslocação de recursos entre classes e grupos sociais,uns ganhando, outros perdendo». A frase não pertence a nenhum perigoso activista
de extrema-esquerda mas foi escrita por Pacheco Pereira, arauto do liberalismo que
reforçou a sua notoriedade após a acérrima defesa da invasão do Iraque pelos
EUA. A análise do militante social-democrata, sistematicamente validada pela
acção do Governo Coelho/Portas, conheceu mais uma dramática confirmação esta
sexta-feira aquando da comunicação ao país de mais austeridade. O Governo dirige
agora o seu ataque aos trabalhadores do sector privado, acenando com o corte de
um salário e mantendo-se a supressão de dois salários para funcionários públicos
e pensionistas. Passos Coelho “esqueceu-se” de esclarecer qual o tempo de
vigência das decisões mas fonte do Governo admitiu, sob anonimato, que elas terão carácter permanente. As medidas dirigidas aos trabalhadores do sector privado,
materializadas através de um aumento da contribuição dos empregados (de 11 para
18%.) e a descida das contribuições devidas pelas empresas (23,75% para 18%) são
justificadas pelo Governo com a necessidade de estimular as empresas à criação
de empregos. Só uma crença cega na ideologia e nos ditames da troika
pode explicar a escolha deste caminho, condenado ao fracasso tendo em conta a mais
que previsível retracção do consumo e da actividade económica. Ou então, o primeiro-ministro
agita hipocritamente a bandeira do combate ao desemprego, sempre à custa dos
trabalhadores ainda empregados, ao mesmo tempo que cumpre, de forma eloquente, o
enunciado de Pacheco Pereira. Trata-se de mais um rude golpe nos rendimentos de
uma grande maioria dos assalariados portugueses, cujos contornos são conhecidos
no momento em que se torna evidente o falhanço do Governo no cumprimento dos
4,5% de défice orçamental previstos para 2012, meta em nome da qual foi
aumentado o IVA e cortados os 13º e o 14º meses à função pública. Por outro
lado, começa a ruir o consenso fabricado nos media em torno da alegada inevitabilidade
da austeridade (ver aqui, aqui e aqui). Por tudo isto é chegado o tempo deouvir a voz da rua!
Vamos lá!
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