Não esquecerei os gritos de uma mulher ali ao lado cujo rosto nunca vi
porque tinha o rosto coberto a espera de mais pancadas
Não esquecerei a certeza ao correr de que nos esmagaríamos uns aos outros,
Não esquecerei os 2 metros do fosso e a escolha entre partir as pernas
e partirem me a cabeça,
Não esquecerei o som dos corpos a cair, nem a visão de gente a cair de costas,
Não esquecerei o ódio no olhar e nas palavras do polícia que me
agrediu e o sabor do meu próprio sangue,
Não esquecerei a raiva de ver gente inocente prostrada pela violência
dos bastões,como se a violência dos dias de austeridade não fosse
suficiente
Não esquecerei a angústia dos camaradas desaparecidos, o imaginar
sortes piores que uma cabeça ferida
Não esquecerei a fuga pelas ruas e o receio que um uniforme dobrasse a esquina,
Não esquecerei as histórias vindas de Monsanto, do Calvário, o medo de
um iminente regresso ao passado
Nem quero esquecer...
E porque só não é livre, quem não continuar a lutar
Voltarei a São Bento.
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