As gigantescas manifestações
que inundaram as ruas de Portugal este sábado constituíram um ruidoso clamor contra
as medidas de austeridade, impostas pela troika e zelosamente executadas
pelo Governo PSD/CDS, de que o anúncio das alterações à Taxa Social Única (TSU)
foi o dramático corolário. Este esmagador pronunciamento popular teve o mérito
de apanhar em contrapé agentes políticos de vários setores, colocando-os numa postura
defensiva e a reboque da torrente da contestação. São raros aqueles
que apostam uma ficha que seja na sobrevivência da coligação. A questão agora parece
ser como será o dia seguinte à queda do Governo, com Mário Soares, esse
especialista na arte bem portuguesa de dar uma no cravo e outra na ferradura,
a dar o mote. Diz o ex-primeiro ministro e ex-presidente da República ser possível a nomeação, por Cavaco Silva, de um novo primeiro-ministro sem convocar eleições antecipadas. Tal hipótese evoca a memória dos Governos de
iniciativa presidencial desenhados por Ramalho Eanes nos anos 70 ou, mais
recentemente, os Governos liderados por tecnocratas na Grécia e na Itália. Mas,
acima de tudo, esta hipótese, ou outras que têm sido lançadas nos media,
servem somente os desígnios da elite politica e económica de mudar algo para
que tudo fique na mesma. Ora sucede que vai chegando o momento de separar as
águas entre quem está contra a troika e quem apoia as suas medidas, por
crença ideológica ou por beneficiar do esbulho à classe trabalhadora por elas
engendrada. Devemos sair às ruas, não apenas para dizer não à TSU, mas para exigir
a demissão do Governo, dizer basta às medidas de austeridade e repudiar o
memorando de entendimento assinado entre Portugal, a Comissão Europeia, o BCE e
o FMI. Esta sexta-feira, a partir das 18 horas, estaremos em Belém, atentos às
manobras encetadas num Conselho de Estado refém de interesses obscuros. Esta
sexta-feira, juntos, formaremos um Conselho de Estado alternativo,
verdadeiramente popular.
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